segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Memória Tricolor: Savóia e Palestra Itália

Há 70 anos, o futebol do PR perdia a guerra


Um letreiro luminoso identificava a sede do Esporte Clube Savóia, na Rua Bento Vianna, no início dos anos 40. Forçada a mudar o nome do clube, a diretoria pensava em uma maneira de aproveitar a vistosa fachada. “A questão não reside em escolher nome bonito, tarefa fácil para quem tem boa memória ou um dicionário à mão, mas em unir o útil ao agradável”, escreveu em artigo na Gazeta do Povo, em 1942, um dos vice-presidentes da agremiação, Manuel H. dos Santos.
A prosaica preocupação com letras iluminadas retrata a dificuldade inicial do futebol em assimilar uma das maiores intervenções que o esporte já sofreu do estado brasileiro. A entrada do país na Segunda Guerra Mundial, em 1942, forçou times a mudar de nome, jogadores a atravessar o Oceano Atlântico para combater, imigrantes e descendentes de estrangeiros a conviver com perseguição nos gramados.
O ponto de partida ocorreu no dia 29 de janeiro de 1942, com uma portaria da Chefia de Polícia (equivalente da época à Polícia Federal) regulamentando o funcionamento de sociedades estrangeiras no Brasil. Entre as diretrizes, a necessidade de “nacionalizar” os nomes que fizessem menção aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), o condicionamento da renovação da licença às entidades somente diante de autorização policial e a permissão para reuniões somente na presença de autoridades.
Menos de uma semana depois, o Palestra Itália, de Curitiba, passou a ser Palestra Paranaense. O rebatismo do Savóia foi mais demorado e polêmico. No intervalo de três semanas foram cogitados os nomes Orion, Atlas, Ivaí, Avaí, Guaíra e Iguaçu, além da fusão com o Guaíra Golf Club.
Após um jogo e duas semanas como Avaí – nome ideal para reaproveitar o luminoso –, o clube passou a se chamar Brasil Esporte Clube, com direito a bandeira e uniforme nas cores verde, amarelo, azul e branco. Não sem antes uma tentativa infrutífera de fusão com os palestrinos, algo que só se concretizaria quatro décadas depois, por meio de Colorado e Pinheiros.
O clube alviverde, por vez, suprimiu o Palestra, ficando apenas como Para­­naense. Ainda seria, mais tarde, Comercial e Palmeiras antes de retomar o nome antigo no pós-guerra. Uma confusão que aniquilou o tricampeão regional (1924, 1926 e 1932).
Dentro de campo o conflito também deixou sequelas. Breyer entregou a faixa de capitão do Coritiba um dia depois da nacionalização. O zagueiro ainda estava sob o impacto dos gritos de “coxa-branca, alemão e quinta coluna” proferidos pelo presidente do Atlético, Jofre Cabral e Silva, na final do Estadual de 1941.
“O Jofre dizia que quem era brasileiro torcia para o Atlético. O Coritiba era time de alemão”, conta Guilherme Costa Straube, do grupo Helênicos. “Nesse período a rivalidade se incendiou e o Atletiba virou clássico”, acrescenta o historiador, que ressalta o fato de o então presidente coritibano, Major Antônio Couto Pereira, ser getulista declarado para evitar perseguições institucionais ao “Alvinegro” – apelido do Coritiba na época.
Cada vez mais rivais, Coritiba e Atlético sofreram juntos com a saída de jogadores para combater na Itália. Moacir Vianna, que no fim da década formaria o lendário ataque do Furacão de 49, serviu no 6.º regimento de infantaria entre julho de 1944 e 1945. Com ele foram Mozart e Evandro. Neno e Altevir, atacantes do Coritiba, foram convocados em fevereiro de 1945, dias depois de terem sua transferência para o Corinthians acertada por 180 mil cruzeiros.
A guerra acabou em agosto de 1945. Vianna reestreou no meio de setembro, contra o Britânia. Neno (o Jeep) e Altevir (a Bazooka) voltaram direto para os Atletibas decisivos do Estadual daquele ano. Escalados sob protestos do Atlético, marcaram os gols da vitória coritibana por 2 a 1 no primeiro jogo. O Rubro-Negro venceria os dois duelos seguintes (5 a 4 e 2 a 1) e ficaria com a taça no penúltimo dia de 1945.
O ano seguinte começaria com o Coritiba reclamando da arbitragem da decisão e o futebol local sob o impacto da permanência no Ferroviário de Janguinho, grande craque da época. “A permanência de Janguinho caiu como uma bomba atômica”, noticiavam os jornais. Sinal claro de que, da mesma maneira que o futebol local demorou a entender a amplitude da nacionalização de 1942, demorou a se tomar a dimensão exata do ato que encerrou a guerra.




Fonte:

http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/conteudo.phtml?tl=1&id=1314841&tit=Ha-70-anos-o-futebol-do-PR-perdia-a-guerra

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